Ouvir para aprender
No processo de aprendizagem estão envolvidas habilidades diversas, dentre elas destaca-se a atenção seletiva, que é a capacidade de direcionar o foco para uma informação específica, advinda de um dos sistemas sensoriais (visão, audição, olfato, paladar, tato e propriocepção). Quando a criança está em sala de aula ela precisa direcionar a atenção auditiva para a voz da professora e atenuar os outros estímulos auditivos (ruído no pátio, colegas conversando na sala) para que seja possível compreender a mensagem. Além disso, é preciso realizar o mesmo processo com os outros sistemas sensoriais, ou seja, “esquecer” que está usando tênis, chupando uma bala, sentindo o cheiro do amaciante que exala da roupa e todas as figuras ilustrativas coladas pela sala de aula. Somente depois desses “esquecimentos” a criança esta apta a focar atenção ao que a professora fala e associar a experiência prévia para formar engramas de memória (aprender!)
O grupo de habilidades necessárias para o processo de aprendizagem é vasto, contudo as dificuldades que permeiam os sistemas sensoriais e a sua relação com a cognição ainda não são discutidas e utilizadas no meio educacional.
Atenção auditiva é diferente de acuidade auditiva. Uma criança com alteração da acuidade é considerada deficiente auditiva e dever ser encaminhada para tratamento específico. No entanto, uma criança com alteração na atenção e outras habilidades auditivas pode ter a acuidade auditiva dentro dos parâmetros de normalidade.
Nas últimas décadas surgiu a AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO permitindo observar como as informações recebidas pelo ouvido são processadas e organizadas favorecendo a formação de engramas. Nesta avaliação várias habilidades são testadas, tais como: localização sonora, atenção seletiva, figura-fundo auditiva, fechamento, detecção dos sons, discriminação auditiva, reconhecimento, processamento temporal (ritmo), compreensão e memória auditiva.
A alteração diagnosticada nesse exame, em uma ou mais habilidades indica que a criança precisa de acompanhamento fonoaudiológico para auxiliar no seu processo de aprendizagem. O tratamento é baseado em um tripé: modificações no ambiente, atividades de remediação e estratégias compensatórias. As modificações no ambiente dizem respeito a orientações quanto ao posicionamento do aluno em sala de aula, quando a entonação de fala usada pela professora e outros. As atividades de remediação compreendem a terapia fonoaudiológica que se deterá às dificuldades diagnosticadas no exame. Quando essas duas bases do tratamento já estiverem devidamente trabalhadas e o paciente ainda assim apresentar dificuldades é necessário o uso de estratégias compensatórias, como a utilização de calendários, resumos e etc. para “saber estudar”.
Garantir que a criança ouça não corresponde à garantia de que ela entenda a mensagem, porque para isso ela precisa coordenar a funcionalidade de seus sistemas sensoriais, atenuando informações que não são interessantes e direcionando atenção para o que realmente interessa no momento. Diante disso, a dificuldade na aprendizagem pode apresentar causas bem sutis, que podem passar despercebidas. É necessário que a criança com dificuldades escolares passe por avaliação de diversos profissionais e esses devem discutir as prioridades no tratamento.
Fonoaudióloga Ana Paula Teixeira CRFa 3308
Fonoaudióloga Franciene Lena Assunção CRFa 3351